2014 é um ano tão atípico quanto decisivo para a luta pela memória, verdade e justiça para as vítimas do Estado durante a ditadura militar-empresarial. Ao passo que a Comissão Nacional da Verdade vai concluindo seus trabalhos e decepcionando por não ter provocado a comoção nacional necessária para pressionar os poderes pela punição aos torturadores, o próprio Estado — mesmo que não esteja sendo pressionado como deveria — vai se fechando para manter tudo como está, mortos e desaparecidos esquecidos e torturadores impunes.
No aniversário de 50 anos do golpe militar fizemos mais uma blogagem coletiva e se já tivemos momentos melhores e mais engajados no #desarquivandoBR sempre temos motivos para celebrar. Nossa IX blogagem teve um número expressivo de participantes novos, de pessoas que nos acompanhavam a distância e que agora se somam ao movimento.
Ainda não tínhamos feito o balanço da nona blogagem, tinha ficado em aberto, e ao nos reunirmos para mobilização dos 35 anos da Lei da Anistia, hoje, percebemos que precisávamos ao menos listar os posts participantes. São eles:
Desarquivando o Brasil LXXX: Delfim Neto, ou a política econômica como instrumento de repressão — O Palco e o Mundo, do Pádua Fernandes
“Em curiosa entrevista dada ao jornal O Globo, “Delfim Neto sobre atuação no regime militar: ‘Não tenha nada do que me arrepender'”, o ex-ministro exercitou o negacionismo puro e simples, típico dos representantes (sobreviventes) de sua geração que militaram pelo autoritarismo. (…) Delfim Neto, certamente, é uma das figuras que mais tem a contar sobre a ditadura militar (e muito sobre a plutocracia de hoje, aposto). Pena que não o fará. Podemos esperar uma abertura republicana de seus papéis após sua morte?”
#desarquivandoBR — Le Coul Du Tabou, do Marcelo Niel
“Pela memória do meu avô, pela memória de tanta gente que sofreu, que foi torturada, que morreu por um ideal, pelas músicas proibidas, pelos livros queimados ou recolhidos e, sobretudo, porque isso pode acontecer de novo, é preciso que essas histórias sejam contadas, reveladas, trazidas à tona. E é por esse motivo que apoio integralmente a abertura dos arquivos da ditadura civil-militar, a revisão da Lei da Anistia e a punição dos torturadores, bem como a mudança de nomes de logradouros públicos que ainda ostentam e exaltam no coletivo a presença de ditadores e torturadores.
Não apenas pelo resgate histórico e pelo respeito às vítimas do passado, mas pela importância de conhecermos mais e mais a história que governantes esconderam de nós para a manutenção da alienação das massas”
Porque ainda precisamos falar sobre as flores — Escritos da Marcia Litman
“Então, se você pensa que nada mudou, pense de novo. Você pode ir a mesa de um bar e criticar a Dilma com medo? Quando você o faz, teme que alguns daqueles que estão ao seu lado possam dedurá-lo por tal posição? Imagina que possa ser torturado e sumir por emitir uma opinião? Não? Parabéns, você está na democracia”
Os cinquenta anos do golpe dos quais passamos quase trinta sem denunciar — Deve haver algum lugar…, do Giambatista Brito
“Esse silêncio vergonhoso só vem sendo possível quebrar, por incrível que possa parecer, pós eleição do governo Dilma Roussef iniciado em janeiro de 2011 e pós implantação da Comissão Nacional da Verdade em maio de 2012. Digo incrível porque nem Dilma, nem sua CNV, fazem lá grande esforço para que a verdade venha de fato a tona, nem muito menos moverá uma palha que seja para que os crimes cometidos durante os 21 anos do regime militar sejam punidos.”
E mais uma coletânea de 21 charges do Carlos Latuff e outra coletânea de 25 charges do Angeli sobre a ditadura militar.
Desarquivando o Brasil LXXXI: Ditadura e homossexualidade — O Palco e o Mundo, do Pádua Fernandes
“Estão disponíveis aos pesquisadores diversos documentos que comprovam essa perseguição aos movimentos sociais, o que inclui os que defendiam os direitos dos homossexuais. Por exemplo, uma das pastas de Ordem Política no DOPS/SP (hoje, no acervo do Arquivo Público do Estado de São Paulo, que preserva todos os documentos que aqui cito) tinha como assunto “Homossexuais”. Em um dos inquéritos feitos em Brasília que encontrei, a “pederastia” foi enquadrada entre as formas de violação da segurança nacional.”
Montagem caleidoscópica: Glauber Rocha sobre Manhã Cinzenta — Incinerrante, de Marcelo Ribeiro
“Produzidas com o intuito de escapar da censura prévia amplificada pelo AI-5, as cópias de Manhã cinzenta tornaram possível a difusão do filme em contextos em que a obra alcançaria projeção e reconhecimento, fora do Brasil, ao mesmo tempo em que acarretaram a prisão de Olney São Paulo, sob a Lei de Segurança Nacional. O filme foi proibido no Brasil, e as cópias negativos foram confiscadas, junto com os negativos, em 1969. Uma delas, contudo, permaneceu escondida por 25 anos na Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.”
A advocacia política e os 50 anos da ditadura: estudos e personagens — Assessoria Jurídica Popular
“Para relembrar os 50 anos do golpe de 1º de abril, o blogue Assessoria Jurídica Popular reúne um conjunto de indicações bibliográficas que trataram do tema da advocacia durante a ditadura civil-militar. A figura do advogado de presos políticos é uma espécie de antecessora da do advogado popular consciente de sua tarefa militante.”
Ditadura e incontinência — Assessoria Jurídica Popular, por Ricardo Prestes Pazello
“As mãos sujas dos que prenderam ilegalmente, torturaram, assassinaram e, para completar, ocultaram cadáveres não se limpam com queimas de arquivo nem tampouco com reconhecimento de firma (Gualazzi reconhece firma de sua aula escrita). Não há mais espaço, em nossa sociedade, para estes furibundos argumentos e ações. Nesta aula, ministrada nas Arcadas do São Francisco, só houve ensinamentos da juventude,******* que relembraram as sevícias cometidas pelo regime de exceção e adentraram na sala do senhor Botelho Gualazzi cantando a “Opinião” de Zé Kétti: “podem me prender, botem me bater, podem até deixar-me sem comer, que eu não mudo de opinião”. No dia 1º de abril, um professor dá aula de mentira, e causa incontinência em toda a comunidade jurídica brasileira, mas os estudantes, como documentado no vídeo abaixo, retomam a verdade, a memória e a justiça!”
Mulheres e os 50 anos do Golpe Militar — Blogueiras Feministas
“As diversas mulheres que lutaram na resistência e também as mulheres que defenderam a ditadura militar tem importante participação nesse período histórico. Manter o status quo também é uma forma de assegurar uma posição social para as mulheres. Mas, o principal objetivo do feminismo deve ser transgredir. As mulheres que resistiram e as que resistem transformam o contexto social e são por ele transformadas. Rompem com códigos tradicionais de conduta e propõe formas alternativas de viver a condição feminina.”
Cinquenta anos depois… — A Navalha de Dalí, do Murilo Corrêa
“É no seio mesmo desses apelos por memória e justiça em relação ao passado que voltamos a nos encontrar com Cláudia e reconhecer que seu corpo arrastado e inerme não é a metonímia que nos faz rememorar as centenas de corpos torturados, violados, mortos e desaparecidos. Como os corpos dos torturados, dos mortos e dos sobreviventes, seu corpo carregava uma história de resistência e, também, um nome. E, hoje, quando temos a oportunidade de enxergar o farsesco e tênue fio vermelho que ligam os corpos dos torturados, mortos e desaparecidos, de ontem e de hoje, é preciso estar à altura de reconhecer o que estes nomes significam. É preciso dizê-lo sem temor, e jamais como signo de nossa impotência, mas da consciência de nossa tarefa política por vir: a ditadura militar brasileira matou Cláudia Silva Ferreira 50 anos depois.”
Desarquivando o Brasil LXXXII: O lançamento de “Índio é nós” e os milhares de mortos pela ditadura — O Palco e o Mundo, do Pádua Fernandes
“Por conta da necessidade de desarquivar esse passado, ainda tão presente na opressão aos índios, a campanha Índio é nós, (a mobilização nacional, neste abril de 2014, em prol dos direitos e terras indígenas no Brasil) preocupou-se com a questão da justiça de transição. Em seu lançamento paulista, neste dia cinco de abril, na Casa do Povo, trará Maria Rita Kehl e Marcelo Zelic, pesquisador que encontrou o Relatório Figueiredo. Esse relatório documentou os crimes contra os povos indígenas no Brasil cometidos na época e pelo SPI, o Serviço de Proteção ao Índio.
David Martim, índio Guarani da Terra Indígena Jaraguá, falará do problema de demarcação dessa TI e também da Tenondé Porã, na Grande São Paulo, que dependem apenas da assinatura do Ministro da Justiça. Índio é nós está apoiando a petição dos Guarani, que eu também assinei, para que o Ministro não tarde mais ainda em cumprir seus deveres constitucionais.”
Estamos encerrando a blogagem coletiva dos #50anosdogolpe no dia em que aniversaria a Lei da Anistia para denunciar os absurdos e as distorções dessa lei, que nunca foi ampla, geral ou irrestrita, foi a anistia possível, negociada sob condições de terror, sob ameaça e, portanto, ilegítima, que precisa ser revista. Nos #35AnosLeiDaAnistia levantamos nossos vozes e usamos nossas redes de relações virtuais para exigir a REVISÃO DA LEI DA ANISTIA JÁ!
#RevisãoLeiDaAnistia